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Parte III- Do "Oiapoque" ao "Chuí " quinta-feira, maio 31, 2012


   Depois de longos anos morando em Belém do Pará. Após muita história construída, lutas, vitórias, derrotas, tristezas, felicidades... enfim, tudo quanto se pode construir no decorrer de uma vida, eis que meu pai retornou à sua terra natal, atravessou o Brasil do norte ao sul na esperança de dias melhores, com espírito de caridade, atendendo às necessidades de amparo dos seus dois únicos irmãos vivos. Um deles era também meu padrinho de batismo  e ele desde nascença possuía limitações físicas, era cego e se locomovia com dificuldades, porém um homem de coração grandioso, temente à Deus e de uma inteligência surpreendente, chamava-se Urbano e era irmão gêmeo do meu outro tio que ainda é vivo, Rui (nome fictício).
   Ao chegar no Rio Grande do Sul, mais precisamente em Porto Alegre, ele se deparou com grandes conflitos e confusões entre a família. Um verdadeiro jogo de estratégias, manipulação e interesses onde a maior parte dos envolvidos visava unicamente o poder aquisitivo. Terceiros com práticas de caráter duvidoso penetraram no seio da nossa família causando um verdadeiro desastre e desunião entre aqueles que mais minha avó paterna tanto incentivou a serem unidos e amigos: os irmão. Infelizmente as pessoas, por mais bondosas que sejam, têm um lado ruim e quando é justamente este lado que se é alimentado não se pode esperar resultado contrário à catástrofe. O tempo guarda em si muitos segredos, mas ele próprio os revela hora ou outra... assim sendo, foi o que aconteceu.
   Sem adentrar muitos nos detalhes da situação, até porque ela ainda é vigente, posso prosseguir dizendo que Deus se mostrou misericordioso e embora as injustiças do mundo por vezes sejam irreversíveis aqui, a justiça Daquele que é soberano sobre o amor, a benignidade e a retidão jamais falhará. Embora não compreendamos de imediato ou façamos mal pensamento acerca da maneira como Deus permite que certas coisas aconteçam, tais ocorrências podem ser perfeitamente esclarecidas e percebidas se tivermos espírito de humildade e discernimento acerca da Palavra de Deus.
  Antes de mudar-se para Porto Alegre, meu pai já andava com uma série de problemas de saúde que comprometeram totalmente a qualidade de vida dele. Ainda em Belém ele sentia fortes dores nas articulações e foi diagnosticado superficialmente como portador de reumatismo... morava sozinho e às vezes simples tarefas lhe eram grandes desafios. Mesmo com todas suas limitações não hesitou em dar o salto do norte ao sul do país, deixando para trás tudo o que tinha, levando consigo apenas poucos pertences pessoais.
  Porto Alegre lhe trouxe alegrias logo à chegada, minha irmã Talita o acompanhou nesta viagem e passou cerca de um mês lá com ele. A princípio ficaram hospedados na casa da sobrinha dele Elisa (nome fictício), sobrinha esta que nos tinha alertado sobre os problemas surgidos com os irmãos dele, incentivando então a mudança de residência do meu pai a fim de zelar pela integridade e conforto dos meus tios, uma vez que, o irmão gêmeo considerado sadio, tinha sido diagnosticado com mal de Alzheimer, este tal que possuía a tutela do meu tio excepcional. A ida do meu pai era uma ameaça real à tutela exercida pelo meu tio Rui e consequentemente a administração dos bens e pensão de valor alto recebida pelo meu padrinho mudariam para as mãos do meu pai. Esta questão causou ira por parte do tio Rui e seus aliados. Por uma questão de segurança meu pai e minha irmã se mantiveram "escondidos" dos outros familiares sob amparo da sobrinha do meu pai. A princípio houveram dias felizes, meu pai demonstrava contentamento por estar sendo bem tratado e por estar no lugar onde ele teve suas origens. Para mim era muito bom participar, mesmo que de tão longe, da felicidade dele e embora eu soubesse que as coisas por lá uma hora iriam fervilhar, a esperança da resolução dos problemas e dias melhores para todos pairava sobre meu coração.
  Os dias foram passando e minha irmã teve que retornar à Belém para cuidar da filhinha dela, mal sabia ela que aquele abraço do meu pai com olhos marejados seria o último de sua vida. Eu, mesmo morando em Portugal me preocupava constantemente com o decorrer de toda esta história, pois aos poucos as "máscaras" de muitos foram caindo e a situação tornou-se cada vez mais perigosa para a integridade física do meu pai.
  Alguns dias após o retorno da Talita para o norte, com o aproximar das festividades natalinas, Elisa noticiou meu pai de que meu tio Rui o tinha convidado para lá passar o Natal e viver na companhia deles. Meu pai mal pôde acreditar e ficou muito satisfeito com o convite, assim o aceitando. Infelizmente não era verdade, ao chegar em Canoas, na casa deixada pelos meus avós, meu pai se deparou com a raiva do seu irmão Rui que brigou e humilhou meu pai até persuadi-lo a se retirar. Rui chegou inclusive a ameaça-lo de morte enquanto estivesse dormindo e o proibiu sequer de retirar água da geladeira para beber. Vendo-se diante da impropriedade de lá continuar, foi embora deixando ainda para trás alguns pertences, levando consigo os bens de uso pessoal e um mísero dinheiro dado por Rui para ele ir embora.
  Elisa que se propôs a assumir responsabilidade de zelo e amparo ao meu pai armou-lhe tal cilada, de modo a forçá-lo sair da casa dela. Meu pai quando quis retornar após ter sido expulso da casa dos irmãos encontrou as portas fechadas. Então escondeu-se em uma pensãozinha barata, desiludido com o irmão que o expulsara, profundamente magoado, pois jamais pensou passar por tamanha decepção. Eles que sempre foram tão amigos, agora meu tio fazer isto com o próprio irmão às custas de dinheiro, para garantir ao companheiro homossexual o sustento de luxos, tirando daqueles que mais precisam e pior, roubando do irmão gêmeo que não sabia se defender. Qualificar tais atitudes ainda me causam asco.
   Sempre que possível eu falava com meu pai por telefone e a princípio ele nem à mim revelou onde estava de fato, me deixando muito preocupada. Mesmo doente e emocionalmente abalado meu pai não se deu por vencido e ainda assim conseguiu na justiça o direito sobre a tutela do meu padrinho Urbano. Feito isto tratou de ir buscá-lo e levou-o com a governanta para a casa de praia em Cidreira, local este que era o recanto preferido do meu padrinho. As coisas a partir dalí melhoraram e as vezes que eu falava com meu pai ele estava sempre bem disposto e esperançoso de que nosso reencontro.
  Ainda sem saber ao certo o quão debilitado meu pai estava, eu prometi à ele que o iria ver em março de 2012, eu estaria presente no dia do seu aniversário dia 21 de março. Mas as circunstâncias mudaram, meu padrinho que também estava com a saúde em estado muito delicado, acabou por passar mal a dormir e isto fez com que o socorro dele não fosse imediato. Quando a governanta percebeu o que estava acontecendo com Urbano, era demasiado tarde para reverter o caso, ainda em vida , porém em coma, ele foi socorrido e internado. Meu pai não conseguia acreditar naquilo, talvez estivesse em estado de choque, negando a realidade cruel da situação. Se não bastasse tudo, ainda quiseram acusar meu pai de omissão de socorro, sendo que nem ele próprio sabia do grau de comprometimento da saúde do irmão. Perante este pesadelo, mais pessoas revelaram ser quem realmente são. Mais sobrinhos do meu pai o acusaram de assassino, como se ele fosse o causador de tal fatalidade. Diante de momentos tão difíceis tivemos que suportar desaforos e julgamentos injustos por parte daqueles que inicialmente pensamos ter boas intenções e caráter.

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