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OLHANDO PARA FORA quarta-feira, novembro 18, 2009

  Nossa vida não é feita somente daquilo que nós próprios vivemos,mas também daquilo que observamos na vida de outras pessoas que nos servem como exemplos e lições.
  Quando me vi internada no hospital me deparei com diversas situações que me fizeram constantemente refugiar em pensamentos, mesmo estando ali com um problema tão preocupante não pude deixar de sentir e até mesmo me envolver nos casos daqueles quem me foram apresentados, mesmo que tão brevemente continuam em minha mente... um verdadeiro observatório da vida daqueles que lutam por ela e que buscam se reerguer quando a moléstia estaciona ou anula os sonhos de alguns. Priva, confina e estabelece limites antes não tidos. Quando tudo acontece como num piscar de olhos e alguns vão do "céu" ao "inferno" em segundos... pude examinar a forma com que cada enfermo ali lida com esta situação tão delicada.
    A senhora nos seus recém atingidos 70 anos e o cada vez mais frequente e conhecido AVC até então lhe estagnara a "vegetar" dependendo de aparelhos para respirar e de fraldas para coletar seus dejetos. Sua mente débil já não responde às conversas de sua tão aflita filha que se distendia da Alemanha para cá a fim de acompanha-la. Ela só balbucia frases desconexas e geme à noite perturbando meu sono já tão "quebradiço" vítima daquele lugar estranho. Às vezes me via incomodada dando suspiros de insatisfação, mas ao mesmo tempo pensava na situação tão difícil na qual ela estava, sem culpa e a compaixão falava mais alto mesmo passando a noite quase toda em claro. Mais um exercício de paciência; sem contar no entra e sai de enfermeiras, no chamar insistente de um senhor no seu transtorno mental chamando pela mãe em plena madrugada. Sexto dia no hospital de Vila Real e a última imagem que tive dela foi quando a removeram para uma maca sendo transferida cujo destino desconheço. O sexto dia era datado 21 de Outubro, mesmo dia em que fiz a tão esperada ressonância magnética com resultado previsto para o dia seguinte.
   No mesmo dia em que ela desocupou a cama ao lado chegou uma outra senhora com uma aparência rural, não tomei conhecimento do problema dela, a única característica que marcou  foi o forte odor de suas axilas, fiquei só pensando o que ela passara para chegar ali em tais condições. Sua estadia como vizinha não chegou ao anoitecer e logo ela foi para outro quarto.
   Embora meu nariz tenha agradecido, outro teste de paciência iniciou-se... a noite adentrou e outra senhora idosa tomou lugar e com ela trouxe uma tortura aos meus ouvidos. Inquieta resmungava e gritava insistentemente chamando a enfermeira "Ô menina!"-gritava ela, "Caralhoo"-resmungava ela. Nem mesmo seus punhos amarrados ás grades laterais da cama a continham, chegou ao ponto de tombar-se ao chão, tendo eu que acionar o alarme,assim como por outras vezes durante a árdua noite. Nos seus 83 anos, via-se internada pela primeira vez na vida, recusando-se a urinar em fraldas e não podendo levantar-se... é de se entender em partes seu comportamento, digo em parte porque o excesso que ela exercia em seus xingamentos acho que não justificava o transtorno que causava não só a mim quanto à outra senhora também idosa; de aparência simpática e tímida que ocupava a terceira cama da enfermaria de neurologia; enfim, não refleti o bastante para quem sabe entender e chegar à uma conclusão.
    O crepúsculo terminou,dando espaço aos raios matinais daquela quinta-feira que já começara estressante por conta do sono mal dormido, em jejum desde o jantar da noite passada alguns exames ainda viriam e que foram cancelados quando por volta das 16 horas o Dr. Pedro Guimarães informou á mim e meu marido sobre minha transferência para o Hospital Geral Santo António em Porto. Assustada, meio que desorientada, sem tempo para despedidas, pois a ambulância já estava à espera seguimos para a fase seguinte.

A SUPERAÇÃO DO MEDO quinta-feira, novembro 05, 2009

  Dia 29 de Outubro.Apenas 4 horas de sono cansado e ansioso anteciparam as horas da cirurgia de biopsia estereotáxica.Sete da manhã,logo pus-me a pé,a enfermeira já a me preparar... um banho desinfetante, roupas cirúrgicas... e eis quer surge meu marido e eu que pensei que não o veria antes de entrar no bloco cirúrgico,o tempo já não parecia existir para mim. O nervosismo contido por parte dele e eu com uma serenidade que nem parecia estar prestes a ter o cérebro invadido.
  Ele me acompanhou enquanto minha cama, devidamente identificada com meu nome,ia corredor a fora e então  o limite chegou, um beijo com a sensação de que tudo terminaria bem e por fim o início da experiência mais surreal da minha vida, aonde até então eu possa descrever.
  Deitada, na minha visão vertical,faces surgiam a todo instante, minha vida entregue aos cuidados de pessoas até então estranhas. Eu só torcia a todo momento que cada um tivesse noção da importância dela,mas o cuidado, carinho e demonstração de profissionalismo logo me fizeram esse pensamento pairar e nada mais pensava, apenas via, sentia. Outra vez me vi na grande máquina cilíndrica, a Ressonância Magnética nessa altura foi muito importante para confirmação do local exato do tumor,com o chamado "contraste" para melhor definir as imagens senti um calor intenso percorrer meu corpo quase nu.
   Num misto de minutos de sonolência e lucidez,como flashes recordo detalhes, como o positivismo do anestesista, um diferencial explícito dentre todos ali presente, o único que usava touca laranjada estampada com smiles, certamente apoio psicológico proposital.Entre as dores suportáveis das pequenas agulhas da anestesia local, direcionada aos nervos da minha cabeça, adormecendo-a rapidamente a pressão do equipamento sendo fixado em minha caixa craniana através de quatro pequenos parafusos,embora aparentemente medieval,uma técnica necessária pela precisão milimétrica.
  Naquele momento eu só pensei em Deus e no propósito daquilo tudo e numa experiência quase que sobrenatural, enquanto eu sentia o pungir suave dos parafusos em minha testa me veio imagens de Cristo sendo coroado com espinhos e então aquela agonia que eu começara a sentir foi banida quando refleti que o meu sofrimento nada era diante do que Ele passou para nos dar Vida e eu estava ali para ser curada e não torturada até a morte como Ele foi.Lembrei da minha vida, dos meus pais, das minhas irmãs,do meu filho, amigos, marido,das minhas andanças, trajetórias, erros... o que minha mente podia buscar no meu "baú de recordações" e o que meu coração denunciava das coisas que fiz e que poderia fazer.
   O anestesista e o neuropsicólogo conversavam comigo para julgar minha consciência enquanto o trabalho ia sendo feito em meu cérebro,o qual não posso descrever com exatidão, pois a única coisa que via era um tubo transparente com sangue, um grande plástico transparente ao redor da minha cabeça e um pouco do equipamento que a fixava.O remover de um pouco da minha vaidade, raspada pela lâmina,um pouco dos meus cabelos se foram para que em troca eu ganhasse um corte no meu couro cabeludo. O momento mais surpreendente foi ouvir o furar do meu crânio, um barulho estridente invadia meus ouvidos de dentro para fora,uma sensação incrível embora indolor. Apesar da aparente cena de terror tudo foi muito tranquilo, o carinho com o qual me trataram me deu mais confiança e coragem do que eu já tinha.Tudo estava sendo tão bem sucedido,meu estado psicológico e emocional estavam tão amenos que eu até sorri para foto e uma curta filmagem.
   O tempo para mim correu indiferente,material extraído do tumor,a finalização e o fechamento da minha pele com espécie de agrafos disparados.Bendita evolução, que permitiu desenvolver os anestésicos,senão talvez eu precisasse de fortes doses de álcool para inebriar a dor.Uma dose de morfina me deixou com arritmia cardíaca...num espaço para recuperação ali sim senti a tortura do tempo que parecia não passar, o sôro parecia não terminar e para completar escapou-me da veia,nessa hora desejei que me tivessem anestesiado os braços também.Meu medo de agulhas era coisa da infância, mas esses dias de internação e incontáveis furadas me deixou traumatizada quanto a isto.Minha agonia durou alguns minutos enquanto o enfermeiro tentava encontrar uma veia,pareciam todas terem corrido e ele ainda mexia as agulhas dentro da minha carne,4 tentativas em vão e a quinta bem sucedida por parte de outra enfermeira.
   Na sala de espera,meu marido informava minha família e amigos que também esperavam aflitos por notícias,que logo ficaram tranquilizados quando os médicos informaram tudo ter corrido bem.Agora só faltava me trazerem de la.
   Um relógio na parede branca e minha bexiga parecia não suportar mais uma gota sequer,tornando os minutos mais aflitivos, tentando suportar me rendi à vergonha de ter que urinar deitada em uma aparadeira com auxílio de uma enfermeira,ao menos me aliviou a tensão da espera.Por volta das 15 horas,meu coração já em ritmo normal, devidamente hidratada me conduziram de volta à enfermaria de neurocirurgia.Em "minha" própria cama transitando nos vastos corredores daquela construção secular,a luz do sol da tarde,tão suave dos dias de outono me veio ao rosto trazendo a sensação de revitalização e enquanto minhas pupilas se contraiam adaptando-se à luz me deparei com o rosto risonho do meu marido, que tanto me esperava aflito, com um brilho em seus olhos verdes e uma expressão de alívio evidente.Foi tão bom esse nosso encontro, tão bom quanto ao dia em que nos conhecemos, tão bom quanto ao dia em que nos vimos vestidos de noivos para nossa união.Então eu contemplava o teto branco,rico em detalhes, como se no Céu eu estivesse e um sentimento de paz tão grande.
    Ele ainda esteve mais um pouco de tempo comigo e seguiu para casa,uma vez que, eu estava me sentindo muito bem,se despediu docemente e foi dar assistência ao meu menino que já não o via desde o dia anterior.O restante das horas foram as mais desconfortáveis para mim desde que minha jornada hospitalar havia tido início.Fora a fome que me atravessava o estômago devido o jejum, ainda tinha a condição de permanecer deitada, meu travesseiro manchado de sangue, meus cabelos embaraçados, uma vontade voraz de tomar banho.Eu me sentia super bem, sem dores, mesmo assim tive que obedecer e então jantei deitada,ao menos o sono vinha,mas se não fosse o fato de eu estar produzindo tanta urina como nunca na vida minha madrugada não teria sido a apertar o alarme de assistência.
   Por fim a manhã do dia 30 de Outubro chegou,e a Doutora Carla Silva,responsável pelo meu caso me deu a permissão para levantar-me, tomar banho e a melhor notícia de todas: minha alta médica.A euforia tomou conta de mim e logo liguei para meu marido contando.A papelada ainda estava sendo preparada,então podia percorrer os 120 km com calma para me buscar.
   A água morna lavou minha alma, notar a pequena perda de cabelo mexeu com meu ego, mesmo sabendo ser um "mal" necessário. Arrumei minha mala calmamente, sequei os cabelos,maquiagem nos olhos, boca, tentando disfarçar a notável mudança que os dias de cama e fortes remédios me fizeram. Meu corpo antes já rijo e contornado pela minha dedicação nos últimos 5 meses agora não está mais o mesmo, minhas pernas que sempre foram grossas perderam a musculatura devido o repouso excessivo e até fracas estão. Achei que eu nem iria caber dentro da minha calça jeans pelo inchaço que o corticóide causa,mas pelo visto só inchou mesmo meu rosto. É incrível como minha vida mudou tanto em poucos dias, mas isto só me tem fortalecido e tenho certeza que logo passará.
   Tudo pronto, papéis, prescrições, tudo entregue. Antes de eu ir fui me despedir da Gorete, a pessoa mais especial que conheci neste hospital e que falarei sobre ela à parte, pois ela é uma verdadeira lição para qualquer pessoa.
   De mãos dadas com meu marido saímos dali, só pensava na hora de abraçar e beijar meu filho, ainda fomos comprar umas boinas para eu encobrir minha nova "calvície", o trânsito da cidade do Porto estava demasiadamente ruim, demoramos a chegar em casa. Minha emoção foi grande ao ver meu filho no portão, me esperando todo alegre,um abraço tão gostoso me fez desmanchar em lágrimas.Todos me receberam super bem, de novo em casa,ainda desnorteada, mas muito aliviada por estar de volta. Observei, senti, ouvi, vi, cada detalhe, que já fazia parte do meu dia-dia com um sabor diferente. A verdadeira riqueza está na simplicidade e a felicidade está dentro de cada um. Não importa a situação é possível se sentir bem e superar qualquer limite, por mais difícil que pareça ser. Diante de algo que muito considerariam uma grande tragédia consegui encontrar mais motivos para sorrir e embora o medo,a eminência da morte tenham me afligido por breves instantes procuro sempre enxergar o lado positivo,pois ele sempre existe.
   Minha batalha contra o tumor ainda não teve fim,o quanto ainda durará não sei,mas se tem algo que tenho aprendido há longa data é ter paciência e perseverança. O ser humano por natureza tende a querer as coisas de imediato,mas se confiamos em Deus, Ele sabe o que é melhor e tem o tempo Dele. As pessoas também,dentre as reações, quando se vêem numa situação de desespero, tristeza, problemas, conflitos tendem ou a se revoltar contra Deus;ou são indiferentes o qual acabam muitas vezes se rendendo,desistindo; ou se agarram à Ele numa tentativa de resolver aquilo que até então lhe parece irresolúvel exigindo de Deus demonstração de Poder e se esquece de considerar a demonstração de Amor que Ele nos deu,através do sacrifício de Jesus "para que todo aquele que Nele crer não pereça,mas tenha a Vida Eterna". Mas temos que aprender a aceitar os fatos e entender que a natureza tem que seguir seu fluxo.Deus tudo pode, isso é inegável, mas tudo o que peço é que continue me dando forças para enfrentar todas as provações e que delas eu cresça e faça bom proveito das lições em minha vida.Que me torne cada vez uma pessoa melhor.
  Enquanto isso minha vida segue e sou muito feliz por isso,administrando as mudanças, amando intensamente e discipulada pela evidências que me tem sido reveladas a todo instante. Adormecer no aconchego dos homens da minha vida foi uma recompensa valiosa depois dos meus dias de confinamento.

AS HORAS QUE ANTECEDEM O PRIMEIRO GRANDE PASSO! quarta-feira, outubro 28, 2009

   Realmente superar nossos limites emocionais, os controles nos nervos, sensações, diante de tantas surpresas, aonde as vezes têm-se sentimento de sentenças anunciadas. Eis-me aqui mais uma vez, anestesiada por mais um choque da realidade dos fatos , 28 de Outubro, praticamente treze dias nesta cama estranha, passando o tempo como posso, lutando a cada instante contra qualquer sentimento interior que me desanime a perseverar, orando constantemente no silêncio do meu coração, embora a angústia desses dias tão imprecisos, tortuosos me aflija por breves instantes, um acalento em minha alma vem toda vez, como uma voz me pedindo calma e confiança. Está sendo tão difícil traduzir isso neste exato momento, mas preciso escrever, quem sabe assim eu mesma entenda.
   Minha noite foi longa, e o sono difícil retomar quando algo o interrompia, me pus a pé as 8 da manhã para mais uma insosa rotina hospitalar… banho rápido, o leite quente a aquecer meu estômago, pão, manteiga, queijo e mais uma entrevista para estudantes de medicina, assim o tempo fluiu mais rápido. Ainda pela manhã recebi as primeiras explicações sobre o procedimento da biopsia cerebral através da enfermeira chefe que estará no bloco cirúrgico, as palavras ecoavam em minha mente, e eu tentando assimilá-los o máximo possível enquanto novamente a sensação de inverno em minhas veias me tomasse. Aceitar a ideia de que quatro pequenos parafusos fixarão meu crânio enquanto através de um pequeno corte introduzirão uma agulha para extração de material do tumor é definitivamente amargo.
  O almoço desceu-me insípido ao paladar,ainda desci até ao café do hospital para comprar um sumo, vendo pessoas, mas meu pensamento fixo em toda a proporção que isso tem tomado desde caí sem consciência em casa, o despertar para uma espécie de sonho-pesadelo, aonde fechar e abrir os olhos é definitivamente igual. Minha face visivelmente preocupada ainda conseguia esboçar alguns sorrisos, tentando disfarçar, talvez. As grandes interrogações disso tudo que torturam a mente, o amanhã que habitualmente dizemos que à Deus pertence me faz tropeçar ligeiramente, mas logo após sinto novamente a luz da esperança resplandecer em mim, confiando mais uma vez e buscando reerguer. Tive que de certa forma compartilhar isso com minhas irmãs e logo em seguida contei ao meu marido por telefone,deixando alguns esclarecimentos para pessoalmente. Não tardou e já estava aqui meu amado, lindo para mim,braços abertos e repletos de saudades me dando uma morfina na minha dor, num abraço apertado o pulsar de nossos corações e em seus olhos verdes a preocupação disfarçada com o ar de que " estou aqui contigo por que der e vier". Fiquei muito confortável com ele aqui comigo hoje, Deus sempre me mandando socorro. Logo mais tarde a presença do anestesista responsável, senti confiança no profissionalismo dele que me afirmou que será imprescindível que tudo seja feito com anestesia local para que eu permaneça consciente durante o feito para melhor possibilidade de sucesso, me garantindo que apenas sentirei as pequenas agulhadas das anestesias e ouvirei o abrir do meu crânio durante pouquíssimos minutos, a cicatriz será mínima e conforme for tudo, inclusive minha recuperação na próxima sexta retornarei para a casa aguardando então o resultado final da análise do tumor que nos dará por fim o tipo de tumor que possuo e qual o método será usado para minha cura.
   Não bastaram por ai as surpresas de hoje, meu esposo me acompanhou até o fim do horário de visitas e em teus braços me rendi por breves instantes, pois sei que amanhã não o poderei abraçar e beijar antes da cirurgia, mas não senti despedida no nosso ato e isso também me conforta e tenho certeza de que o verei assim que me recuperar amanhã mesmo. Outra grande emoção foi ver por webcam meu filho lindo rindo para mim, juntamente com minha cunhada,cunhado,sogra,sobrinho, foi muito bom,embora a carinha de saudades do meu filho não pudesse ser disfarçada eu senti todo o amor que temos quando junto estamos e isso é um combustível essencial para mim, sempre, quanto mais agora. Nesses momentos tão arriscados de vida, principalmente no qual temos consciência dos risco é que devemos nos agarrar com as duas mãos e erguer nossos olhos Àquele que nos entende as Mãos, Deus, preparou meu caminho já sabendo que essa minha luta viria e não tenho como, nem quero me vendar a isto. Meu filho recusou-se a me dizer TCHAU hoje e não pude conter as lágrimas perante isto, mais um sinal de que tudo correrá bem.
   Mais uma vez "sozinha" aqui, tentando relaxar, conversas emotivas com minhas irmãs, mas o sentimento de força, fé, sempre presente. Tentando ser forte busco ao máximo não chorar ,mas a emoção inevitável vem quando mensagens e demonstrações de amor me são feitas. Hoje um grande amigo meu Pedro Rodrigues me homenageou em sua rádio no site Ponto Comum e foi incrível a transformação do meu semblante que já modificado pela intervenção de medicações fortes, noites mal dormidas transpareceu o sorriso e me sinto muito melhor para enfrentar o próximo passo.
    Para completar Deus mandou-me mais uma mensagem através de um amigo,que assim dizia:
"Chore para Deus o choro não cai o choro da alma sobe, sobe, sobe vai. Chorando para Deus você move o céu ,o choro no céu é uma cachoeira no trono de Deus"

    E assim farei agora,meu desabafo para Deus,sem tristeza,apenas súplicas para que meu clamor suba,suba e minha alma esteja leve.
    Obrigada à todos pelo carinho,atenção,acompanhamento,força,orações.Amigos amados,nem vou citar nomes por enquanto para não gerar ciúmes...eheheh
    Aviso logo que os risco de encontrarem SHIT ou Chiclete amanhã é grande!kkkkkkkkk
    Filho meu,falta pouco,logo mamãe vai poder te fazer dormir denovo e brincar contigo mais que antes.PROMETO!Até amanhã!AMÉM!


A CONFIRMAÇÃO DOS FATOS domingo, outubro 25, 2009

   23 de Outubro,o despertar em outra cama de hospital,depois de uma noite de sono escuro, pesado, sem sonhos. Hoje um sentimento gélido congelou-me o sangue nas veias por breves segundos quando a notícia do tumor cerebral residente em mim foi confirmada. Uma profusão de sentimentos cortando o coração como lâmina afiada, mas a todo momento, embora a mente confusa em admitir os fatos, um doce fogo suave aquecia meu coração e as lágrimas escorriam como gotículas que suam de uma pedra de gelo. Meus olhos perdidos sem saberem aonde fitar, percorreram as paredes do quarto sem foco, se misturando com o semblante da médica que cautelosamente me explicava a situação, tentei fitar o chão em tristeza, mas um salto dos meus olhos me fez olhar para cima e então eu pude mais uma vez sentir de onde vinha aquele calor emanado ao meu coração. Deus, me acalmando mais uma vez no seu amor imensurável.
   Seguro o telefone e o silêncio se quebra ao eu ter que falar ao meu marido, mas o tremor na garganta não venceu a calmaria que me veio à voz enquanto a amargura da realidade lhe era confirmada, senti no timbre dele o desespero contido, sem palavras a expressar a dor, medo....normal sentir isso, meus olhos também se encheram de lágrimas, mas tudo o que pude transmitir era o sentimento de positividade, da fé que me move cada vez mais e a esperança que Deus planta em meu coração a cada instante. O consolo do Espírito Santo de Deus afastava qualquer tentativa de pranto e certamente as mãos do meu Anjo da Guarda me confortavam os ombros.
   Minutos de reflexão deitada em meu leito provisório, digerindo aos poucos os fatos, me preparando então para anunciar às minhas irmãs, pais, amigos, sem ensaios para as palavras me pus na companhia da tecnologia e por fim foi-lhes dito. Não queria jamais ver os que amo chorando de tristeza por mim, mas isto me faz ver o quanto eles me amam também e nossas forças juntas só crescem.

   O amor que tenho recebido, carinho, apoio, palavras, orações têm sido primordiais neste momento que ainda nem consigo descrever o quanto.Sozinha não estou e nunca estive, essa certeza também tenho.O restante do dia em companhia de pessoas até então estranhas, o  messenger como veículo me fazendo passar o tempo com mais tempero. Minhas irmãs, ninas tão amadas de plantão comigo, acompanhando cada momento, estamos muitos sintonizadas e isto me faz um bem enorme, as mensagens lindas que tenho recebido de amigos muito especiais, até dos que pouco me conhecem. A saudade de casa é enorme, nunca senti tanta falta da minha cama, do aconchego do corpo do meu marido e filho, se antes eu já tinha uma valorização desses detalhes tão importantes, agora mais ainda. Sem sombra de dúvidas sairei daqui uma outra pessoa, com novas visões, conceitos, experiências. Nunca fui de ter idéias pré-concebidas das coisas, sempre deixei que os fatos e as ocasiões moldassem tais pensamentos porque só a vivência deles ensinam... e se tem algo que já aprendi é a ter paciência, anos atrás estaria maluca neste quarto de hospital, mas tudo o que tenho vivido, erros, acertos, casamento, maternidade, convivência, descobertas, mudanças... enfim, a sede de vida e de vitória só crescem e Deus proverá isso! Que Deus me dê sono e que as trevas passem me dando a chance de viver sempre mais um dia, abrir meus olhos, receber o bom dia tão maravilhoso da boca do meu filho e o doce beijo do meu amado esposo.


O COMEÇO DA TEMPESTADE sábado, outubro 24, 2009

  Nada é demasiadamente concreto,até o momento que as coisas mudam radicalmente,mesmo quando não se espera.
  Há momentos determinantes na vida que nos levam a reflectir e ter uma maior diferenciação dos acontecimentos,dos valores,das pessoas que nos cercam e o que de fato está ligado à nossa vida e ao propósito da nossa existência.
  A todo instante a vida nos lança desafios,escolhas,caminhos e sempre temos que sacrificar algo em prol de algo.Por mais cautela que se tenha o inevitável surge e o que fazer perante uma situação emergente?O que fazer quando um forte vento nos arrasta à beira do precipício sem corda ou pára-quedas?
  Cessando um pouco a filosofia,eis-me aqui na realidade.Um acordar de um dia aparentemente normal,dia 15 de Outubro de 2009,sem podermos prever Deus providencia para que dos males o menor aconteça.Meu filho foi à escola,um beijo gostoso e o semblante dele alegre indo na carrinha.Vesti-me e decidi ir à aula de código,por cuidado de Deus decidi sair antes do horário de lá,sendo assim meu amado me buscou e fizemos o almoço juntos em casa,me sentia absolutamente perfeita fisicamente e minutos antes dele voltar ao trabalho o inesperado aconteceu,em pé não senti minha perna direita e instantaneamente uma sensação de tremor dominou meu corpo,como se eu estivesse em pleno terremoto sozinha e em seguida apaguei,amparada pelos braços do meu esposo fui ao chão em convulsão e aproximadamente 15 minutos de inconsciência o socorro médico chegou,quando voltei à lucidez fui me recuperando rapidamente,mas ainda assustada e confusa.Então fui conduzida até ao Hospital aonde fui analisada e submetida a um exame designado TAC no cérebro aonde foi identificado uma lesão não muito bem definida devido as limitações do próprio exame,mesmo assim fui dirigida à internação para averiguação cautelosa do caso.
   A espera só começou a partir de então e as agulhadas,drogas,extrações de sangue para análises e uma enorme interrogação nos pensamentos,mas o momento mais precioso esperado passou a ser da realização de uma ressonância magnética e que  para minha agonia mental só aconteceu no dia 21 de Outubro,quase uma semana após  minha internação.Não consigo esquecer os vastos minutos dentro daquela máquina branca,cilíndrica,com ar espacial...inerte,olhos abertos,o observar no silêncio do meu coração,não precisei fechar meus olhos para que um filme da minha vida se projetasse em minha retina...momentos,pessoas,faces, tristezas,alegrias e como uma morfina em minha alma,senti uma presença maior ali,Deus com certeza,me amparando com seu Santo Espírito,saí dali anestesiada,apenas tendo em conta a sensação.Depois a espera pelo resultado,Doutor Pedro sempre tentando me tranquilizar,mas no fundo eu já sabia que algo existia além,a compaixão nos olhos dele o denunciava.
   Vasta noite de horas perdidas,olhos vermelhos entorpecidos pelos remédios,um ansiedade cruel pelo tal resultado,uma manhã perdida sem nada concreto informado.Se não bastasse o jejum alimentar pelo segundo dia seguido esse jejum de informações,de soluções.Já se passavam as 16 pm,meu sangue começava a ferver,inquietude,a cama parecia quente demais,não contive,accionei o alarme e solicitei a presença do médico.A notícia da transferência para o Hospital Santo Antônio em Porto foi então a novidade sob o argumento da avaliação do meu caso por uma equipe de neurocirurgia.Contactamos meu esposo por telefone e ele rapidamente providenciou os próximos passos,em menos de uma hora já estávamos a caminho amparados com muito carinho e positivismo pelo mesmo socorrista que outrora me buscara em minha casa quando a doença se manifestou.Vale ressaltar que a ansiedade perante os fatos não é maior do que o reconhecimento de que as coisas estão tomando rumos caminhando para o melhor,todo o amparo que estou tendo,carinho,cuidado,de todas as partes só tem contribuído para meu positivismo evoluir.Aos poucos ideias,concepções de várias coisas referentes à vida vão tomando um molde diferente,ainda é cedo para conclusões,mas minha maior certeza agora é do AMOR e PODER de Deus,o qual sou infinitamente grata,pois mais do que nunca sei que Deus sem nós continua sendo Deus,mas nós sem Deus não somos nada.
   

Nostomania Por Ti sexta-feira, outubro 16, 2009

Nostalgia
Daquilo que cativou-me
Um dia
E arrancou-me risos
Suspiros,gemidos
Gozos e euforia.

Como um vento forte
Emaranhas meus cabelos
Elevas meu corpo
Me fazendo levitar
Me envolves por completo
Trazendo-me todo o afago
Como se o mundo parasse
E eu não pudesse mais chorar.

Sonhos
Desejos
O que tanto minha matéria
Cansada
Fragilizada
Precisava
Mas de repente
Partes
Me soltas
Em queda livre sou lançada
Nua

A tua carícia que me refrescava a alma
Levou minhas vestes
E agora,tão prestes
Me abandonam à míngua
E teu sabor já não sinto
Mesmo que eu te toque com a língua.

(Lígia Breyer)

Quando o Coração fala a Mente Silencia sexta-feira, outubro 16, 2009

A fragilidade da carne,
O poder da mente,
Damos mais valor à saúde
Quando estamos doentes,
Eis que a enfermidade do espírito
Reflete no corpo,
De onde vêm,
Seu por quê,
Tão difícil entender.

Toda onipotência humana se dissolve perante
sua suscetividade à morte
E o estar ou não estar
Fica entregue à sua sorte.
Podemos simplesmente dormir
E não mais acordar
Sair
e não mais voltar,
Cair
e não mais levantar.

E do que vale tudo o que construímos
Tudo o que deixamos de fazer
Ou tudo o que fizemos?
A vida jaz na própria vida
Se não aproveitamos o que temos.

Exemplos e exemplos nos circundam
De pessoa que tudo tiveram e nada levaram
Daqueles que nada tiveram
Mas foram afortunados
Pelo simples fato de saberem viver
E vivem mesmo após a morte.

O medo, temor, receio, que cada um possa ter
Supera-se facilmente pela Fé
A confiança que parte do seu interior
percorre um vasto mar com grandes ondas
Tsunamis que teimam nos afogar
E embora teses, estudos diversos,
Probabilidades convincentes
Tentem nos ludibriar,
A determinada hora,
O escolhido momento
Nos leva, mesmo que à deriva
Para o Porto Seguro
Chamado Deus!

Nosso encontro está marcado
Desde o momento em que nascemos
Porque é irrefutável nossa origem
E embora se renegue
Nossa genética é Divina
Mesmo que o primata se assemelhe
Mesmo que a ciência refute
Mesmo que o big bang relute.

As diversas teorias
Nada mais são que um tentativa
Falha,
Promíscua,
De se esquivar da Verdade que nos origina.
Pra que fugir se é mais fácil se entregar?
Por que correr se é mais fácil caminhar docemente
Na segurança das mãos do Criador?

Olhe e se não tiver mais olhos
Ouça!
Se não tiver mais ouvidos
Toque!
Se não tiver mais mãos
Sinta!
Sinta nas profundezas do teu coração
E confie,mesmo se estiveres no escuro
Porque Deus é Luz
Mesmo que não O possamos ver
E Sabedoria quando já não podemos discernir.
Deus é Amor e um dia Ele há de a ti vir!

                                              Lígia Breyer

Imergindo em Mim sexta-feira, setembro 25, 2009

Só hoje não quero ao teu lado me deitar
Esta noite quero só para mim
Na minha solidão
Que mesmo te tendo tão perto não passa
Quero mergulhar no meu eu
Ultrapassar meu além
Girar a ampulheta 
E deixar a areia do tempo fluir.



Um dia eu prometi
Não mais fugir de mim
E não me deixar por mais ninguém
Essa promessa vou cumprir
Até ao fim.


Olho para ti e te vejo parado
Inerte no tempo
Olho para mim
E a rotação é constante
E meus passos são longos
Apressados
Isso significa amor que o espaço entre nós é cada vez maior

Esta cada vez mais difícil regressar
Por que não corres até mim?
Como era no dia que nossas órbitas se chocaram
Não importa onde, como
Tem que ser agora


Tudo o que me importa não é aquilo que temos
Mas o que acreditamos
Ultrapassando aquilo que podemos ver
Então eu ando
E arrasto meus sonhos pelas costas
E quando canso
Empurro-os para frente
E quando paro, repouso sobre eles


Jogue-se comigo
Aprenda a voar
Uma asa embora curta pode te sustentar
Mesmo que por poucos minutos
Se alimente dos pequenos grandes detalhes
E aprenderás toda a essência da vida
Então suas asas serão grandes
E todos os precipícios serão meramente
Uma pedrinha abaixo dos teus pés.


Não tente me prender
Nem ouse me algemar
Ou jamais desejarás de novo amar
Meu passado é preenchido
Meu presente descoberto
E meu futuro tudo aquilo que eu puder acreditar
Portanto acredite
Ainda é tempo
Antes que eu voe com o vento
E não possa mais voltar.



Ainda estou aqui
E não me importo com nada do que possa acontecer
Desde que estejas ao meu lado
O impacto da convivência
A lei da sobrevivência
O que está ganho não está garantido


Deixe-me só
Somente esta noite
Para eu saber onde estou
E a vida que eu tinha antes
Para eu confirmar quem sou
E o quanto mais eu posso ser
Me resgatar 
Sempre que minh'alma tentar de mim escapar.



                                                                        (Lígia Breyer)

As Faces da minha Infância quinta-feira, setembro 24, 2009

    Saindo do Casulo
   Ano de 1984...piuííí,tic tic tic tic,piuííí,...o trem anda e minha concepção é consumada,talvez a trepidação tenha sido um agente importante para mamãe ter sido fecundada e diante de toda a agitação no passear pelos trilhos do Mato Grosso do Sul eis que minha vida foi iniciada.Pobres pais,mal sabiam a encrenca que arranjaram.
  Minha mãe carregava-me em seu ventre com muita felicidade,a pequena tão desejada,em seu útero se formava.Chegou o grande dia,17 de abril de 1985,15:10 pm , hora tão esperada,um médico japonês arrancou-me de suas entranhas,provavelmente ele me olhou,mas juro que não me lembro de nada.E o tempo foi passando,dos seios de minha mãe me alimentei até onde ela pôde,um problema em sua mama me fez mamar em outra ama,uma mãe de leite que hoje já não sei por onde anda.Antes do meu primeiro ano subimos o mapa e na Capital Federal fomos morar,na cidade Sobradinho,muitas coisas aprendi lá.Com menos de três anos de idade minha mãe voltou a engravidar e á outra menininha deu à  luz,minha irmãzinha Talita,linda,alva,de olhos azuis.Apesar da minha pouca idade ainda me lembro perfeitamente de quando fui à maternidade com meu pai e minha irmã mais velha e quando a olhei pela primeira vez no bercinho próximo ao leito de minha mãe,meu pai me ergueu porque minhas curtas pernas não me deixavam alcançar,então a fitei encantanda.
      Ainda lembro do pinheiro que tinha no jardim de casa e eu tomando leite na mamadeira perto dele,o Magno nosso cão fila brasileiro que eu fazia de cavalo,morreu envenenado,coitado!...As chuvas de granizo e eu e minha irmã mais velha,Rheyka, tentando apanhar as pedrinhas de gelo para chupar,só que a danada fazia, eu ,correr para pegar.Lembro também das amizades que ali tive e os rostos me vagam na memória.Cinco anos da minha vida se passaram ali na planejada cidade de Juscelino Kubitschek e neste período lembro de viagens que fizemos.
     Viajávamos sempre à uma fazenda em Goiás,íamos de carro e ainda recordo vagamente da estrada,das pontes de madeira nos precipícios enormes,a casa da fazenda,as emas caminhando livremente e eu e Rheyka tomando banho numa grande caixa de isopor.Minha mãe tentando dirigir,que desastre!As aventuras com meu pai à noite,uma cobra no meio do caminho da estrada de chão,a pescaria no rio com jacarés e meu pai como bom biólogo destemido me passava toda segurança de estar ali.Minha primeira cavalgada,montada numa égua sem cela,ai que tortura!quase me desmantela,minhas nádegas que o digam.E os jogos de cartas reunidos à mesa à luz de lampião,claro que eu não sabia jogar nada,mas ríamos,brincávamos,era de fato muito bom,tão bom que nem os anos apagaram da minha memória.
     Canoas,Rio Grande do Sul,nossas viagens de férias a visitar a família do meu pai e Maria a governanta da casa dos meus tios José e Urbano sempre nos recebendo com suas guloseimas, compotas, tortas, suspiros,merengues,tudo feito por suas prendadas mãos e que me faziam arregalar os olhos,afinal,qual criança não se sente enfeitiçada com doces á sua frente?A varanda coberta de uvas verdes no qual eu me pendurava na pérgola para comê-las.Cidreira,praia de água fria,salgada e levemente castanha...casa quase de frente ao mar,tantas recordações tenho de lá!As idas às dunas de areia e o "Pelé",filho da Maria,negão alto,me levava nas costas nas subidas,descidas rolando o corpo na areia e no final um laguinho cheio de girinos.O carrinho do vendedor de rebuçados,puxa-puxa,torrone,quindim,entre muitos nomes que só recordo o sabor,hummm! Um fim de tarde inesquecível,eu,minha mãe e minhas irmãs sentadas na mureta que nos erguia a ter uma vista maravilhosa do mar,o sol quase de ponho com o tempo nublado e as baleias a nos dar um espetáculo com suas caudas a salientar alto fora da água.Os jogos de taco-ball,o cestão de embalo...saudosos momentos da minha puerícia.
     
 

Incontroláveis Desejos sábado, setembro 19, 2009

O inevitável acontece
As pernas estremecem
Coração palpita
Garganta ansiosa por um grito
Que liberte
um desabafo da alma
um sopro em devaneio
Um suspiro de alívio.

Se meus olhos pudessem os teus fitar
Se minha boca
Ressequida de tanto desejo
Pudesse em teus lábios se banhar
Essa secura
Que minha pele põe em rugas
E uma palidez
Como se sangue não tivesse...
Talvez.

Sangue,
Púrpura magia,
Dá-me vida,
Calor,
Dia e noite,noite e dia.
E nas veias um ardor,
Para ti uma manifestação
Das sensações que me causas
Simplesmente por tuas palavras.
Insônia, inquietude...
Náuseas.

Longos são os dias
Incontáveis são as horas
O relógio marca séculos
Esquece-se de andar
E um amanhã de incerto encontro
Me desatina a certo ponto
Mas só me resta esperar
P'ra em teu misterioso abraço me atirar.

Por que a vida prega peças?
Por que o amor emergente demora quando se tem pressa?
Sede,
Fome,
De vida,
De emoção,
Quanto mais temos certeza
Mais entramos em contradição
Ah, pobre coração
Entrou no olho do furacão.

Agora o que me resta?
Diante das muralhas da prisão
Achastes uma fresta
E entrastes como água do mar em rocha
Inundando-me
Invadindo-me
Lavando-me
Curando minha cegueira e minha cólera.

AH! Sagaz solidão,
Megera,
No teu matrimônio
Jamais imaginastes tal armadilha
Será insensata quimera?
Como presa caístes
E o lobo prestes está
A consumir-te 
Mas ele olha-te nos olhos
E sua imagem se reflete
Como num espelho de pupilas dilatadas
Enxergando seu eu
E todo o amor que a si remete.

Sente-se então como sob a sombra de uma figueira
Admirando a aurora
De um dia de verão
Aonde os raios se transpassam entre as folhas
E o frescor dos ventos suaves
Não refrescam o calor de outrora
Calor de vida própria
Ei, por favor,
Não se demora
Meus desejos são p'ra já,
Agora!


                               (Lígia Breyer)

Despedida sábado, setembro 19, 2009

Sei que ainda estás a voar,
Meu anjo voa nas asas de um pássaro,
Pássaro de aço,
Bendito,
Maldito,que te trás e que te leva
Levou
Levou a terça parte do meu coração
E agora sinto-me perdida,
Sem rumo,
Sem direcção.


Anjo,
Use as tuas asas
Voe denovo em direcção ao meu peito
Arranque-me essa dor,
Esse misto de prazer e agonia
Que me faz rir chorando,
Ou me faz chorar sorrindo?


Estou com frio,
Me falta o calor dos teus braços
Estou com calor,
Me arde no peito o fogo dessa paixão,
Paixão?
Essa paixão já é Amor.


Dor
Sofrimento
Saudade
Alegria
Lembranças...
Ahhh!...doces lembranças
Toda vez que meus lábios cerram-se,
Automaticamente,meu lábios,sorriem.


Ainda posso te sentir
Teu cheiro,
Tua energia,
O sabor da tua carne labial
Isso nunca terá fim.


Marcou minha vida,
Fez sentir-me mulher de verdade
Me trouxe encanto,ternura,paz,sinceridade...
E o medo não mais permanece em minha vida
Dissipou-se como nuvens ao passares,
Nuvens que encobriam um arco-íris,
Cheio de cor,
Fantasia,
E que não finda.


                                          ( Lígia Breyer)

Presente de um Poeta sexta-feira, setembro 18, 2009

Mil luzes ardem no seu cabelo
Explodindo no mais belo riso
Olhas para ela e lembras-te do mais belo dia de verão
Em que o Sol passeia pelos teus dedos
Perdidos em tamanha perdição


Ela faz-me voar alto com a sua voz
Mais alto que tudo num doce banho quente
Em que respiro debaixo de água como os peixes
E adormeço mergulhado em mil deleites


Olhos feitos de mar,...felino
Trazem vagas,ondas,espuma de paz
Num nunca acabar,...lindo
Fazem-me esquecer todas as coisas más


Quando fazes beicinho do teu jeito especial
Com teus lábios misterioso sinal
Fazes-me acreditar que nada pode correr errado
Secas no meu rosto as lágrimas e seu sal
Tornas doce o meu mar salgado


A tua elegância,o teu andar
Flutuante,de mulher leopardo
Acorda os poetas da cidade
Os grafites devolvem a luz ás paredes,escondendo a sua vaidade
A cidade fica com teu perfume tatuado.

                                                               (Paulo Matos)