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Falar de si,daquilo que nos transborda no íntimo e nos aflinge a alma é complicado. Uma vida pode ser retratada de várias formas ou simplesmente encoberta. Mas as memórias permanecem e tudo o que fizemos, passamos, sentimos nos acompanha até o último fôlego de vida nos ser tirado e não jazem no esquecimento, porque Deus faz questão de lembrar de cada capítulo e aqueles que atuamos com outros personagens da nossa história continuam vivos neles.
Erros, acertos, vitórias, derrotas, tristezas, alegrias... Os opostos que escrevem nossa história, as lições de vida que extraímos deles.A fantástica jornada chamada VIDA. Tanto aprendemos com nossas experiências, quanto com as de outras pessoas, foi pensando nisso que resolvi compartilhar aqui as minhas... criando um espaço para rir, chorar, surpreender, refletir, sonhar, viajar. Embarque comigo! Seja bem vindo! My Blog List
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Parte II - O perfil de um pai | quinta-feira, maio 31, 2012 |
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Um pai chamado Francisco
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Ao longo de seus 67 anos, meu pai teve a vida marcada por muitos erros e acertos, os quais se é impossível, na qualidade de humana, medir num parâmetro geral, qual dos dois superou o outro. Todavia, posso afirmar que o maior erro que ele cometeu e que qualquer um pode cometer na vida, é seguir seus caminhos sem estabelecer uma aliança com Deus. Meu pai era um intelectual, buscou a fundo conhecimentos humanos, mas esqueceu-se do conhecimento divino. Conformou-se em seguir tradições e nem mesmo à elas deu muito apreço. Inevitavelmente, quando rejeitamos a presença de Deus em todos os momentos de nossas vidas, acabamos nos expondo às ações adversas ao bem que só Deus nos oferece.
Desde mui jovem meu pai teve responsabilidades e foi educado de forma rígida, assim como seus outros 5 irmãos. Alguns de seus irmãos se foram ao sono eterno prematuramente, um deles em um acidente automobilístico e outros dois por motivos de doenças. Restaram até então os gêmeos e meu pai que era o caçula.
O menino natural de Taquara, interior do Rio Grande do Sul, cresceu e formou-se biólogo. Teve uma carreira linda, atuou como professor, como pesquisador. Elaborou grandes projetos como o 'Projeto Jacaré' no Pantanal. Antes de atuar na área dele, trabalhou inclusive no Tribunal da Infância e Juventude, creio que esta experiência teve influência sobre o modo como ele lidou com as 3 filhas, tanto que quando se separou da minha mãe ele fez questão de ficarmos com ela, pois para ele não havia coisa mais triste do que separar a mãe de uma criança.
Como ninguém é isento de defeitos, meu pai possuía problemas que influenciavam não somente a vida dele, como a de todos que o rodeavam, de forma negativa. Há um grande mal que acomete muitos lares, tornando o convívio familiar doloroso: o alcoolismo. Meu pai desde jovem viciou-se em álcool e o tabagismo era marca constante no dia-dia dele... O problema maior do alcoolismo é a reação que cada um expressa através do mesmo, no caso do meu pai, era a violência. Violência esta direcionada à minha mãe que suportou durante 16 anos momentos de verdadeira tensão e sofrimento, quando sob efeito da bebida ele a agredia física, verbal e psicologicamente. Desde de que nascemos fomos expostas a presenciar tais cenas e por vezes eram situações de extremo terror para nós assistir à tudo aquilo. Ele não era de chegar a espancar minha mãe causando maiores danos, mas as marcas de tudo o que se passava entre eles também ficavam em nós.
Consequentemente nosso comportamento também era afetado, mas ele como pai, a relação dele diretamente conosco era muito boa. Meu pai sempre procurava nos agradar, defender... ele vivia por nós, embora o vício por vezes teimasse em nos roubar este pai de amor. Ele não era violento com as menininhas dele.
São tantas as lembranças das brincadeiras e dos momentos felizes que ele nos proporcionava. Sempre nos ensinou a sermos amigas, unidas... Era o tipo de pai que construía com as próprias mãos brinquedos e engenhocas para nos divertir. Nas festividades nos enchia com farturas... nossa alegria era a dele. Nos cercou daquilo que ele próprio gostava: a natureza e os animais. Nos permitiu sermos crianças e até na hora de nos castigar ele era compassivo... Quando precisava usar a "vara" da disciplina, eram puxões de orelha, palmadas nas nádegas... quando nos punha de castigo, passados alguns minutos ele nos ia retirar do castigo.
"-Vou contar até três... 1,2..." ( Mal se aproximava o três e já corríamos de medo, rs)
Engravidei aos 19 anos, e embora envergonhada não tive receio algum de contar ao meu pai, ele por nenhum momento me repreendeu ou me julgou, antes entendeu-me os braços e secou minhas lágrimas diante do meu medo de ser mãe tão jovem. Ele não era hipócrita, ele sabia que me repreender quando tudo já estava feito era gastar palavras e desperdiçar sentimentos. Se ocupar com a decepção ou com a raiva num momento desses é adiar o amor que fatidicamente viria cedo ou tarde... afinal, era uma vida que viria e uma criança jamais deve ser recebida com tristeza.
Todas as vezes que eu fiquei triste, pude sentar ao lado dele e conversar, expôr minhas aflições e sempre ele me ensinou a ter calma diante de qualquer situação, que o desespero nunca resolve nada... Este ensinamento trouxe grandes resultados benéficos à minha vida, pois de fato nos momentos onde mais precisei ter esse equilíbrio para seguir e modificar em algo bom seja, qual fosse o problema, eu consegui.
É impossível eu não olhar para trás e não reconhecer tudo de bom que meu pai tinha, mesmo com as lutas dele pessoais, mesmo com o gênio forte dele e com as manias. Ele nos repassou bons valores e quanto aos maus, cabe à cada uma saber discernir e transformar em positividade. Eu posso afirmar e não é hipocrisia, pois definitivamente não creio que só porque uma pessoa morra ela deixe de ter defeitos, mas eu quanto filha sou orgulhosa do pai que tive e preferia ter 1000 como ele do que não tê-lo.
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2 comentários:
Nossa Lígia que lindo . Vc escreve muito bem! Eu não sou de ler textos muito longos pela internet mas sua redação/estória e muito bonita. Me avisa Qdo um dia publicar um livro que eu certamente gostaria de ler. Beijos. Fernanda
Obrigada Fê. Sim, em breve mais novidades e histórias emocionantes! Beijos e obrigada pela visita! ;)
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