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''The tracks of my tears'' segunda-feira, fevereiro 24, 2014


Hoje acordei assim, observando minha face frente ao espelho e as gotas de tristeza e saudades que entornavam dos meus olhos deixando rastros sobre a minha pele. Se elas pudessem entranhar-se no meu rosto transformando-se em rugas seria como ter 100 anos em 28. Estou me libertando, lavando as impurezas do meu coração, deixando transbordar tudo o que me deprime, me sufoca para nunca mais voltar... e não será por muito tempo, o meu sorriso sempre vence o meu pesar. 

Lígia Breyer

Todas as Nossas Paixões se Justificam a Si Próprias domingo, julho 08, 2012

  Existem duas ocasiões distintas em que examinamos a nossa própria conduta e buscamos vê-la sob a luz em que o espectador imparcial a veria: primeiro, quando estamos prestes a agir; e, segundo, depois que agimos. Em ambos os casos os nossos juízos tendem a ser bastante parciais, mas eles tendem a tornar-se ainda mais parciais quando seria da maior importância que não fossem. Quando estamos prestes a agir, a veemência da paixão raramente nos permitirá considerá-la com a isenção de uma pessoa neutra. As violentas emoções que nesse momento nos agitam distorcem os nossos juízos sobre as coisas, mesmo quando buscamos colocar-nos na situação de outra pessoa. 
  Por essa razão, como diz Malebranche, todas as nossas paixões se justificam a si próprias, e parecem razoáveis e proporcionais aos seus objectos enquanto nós estivermos a senti-las. A opinião que cultivamos do nosso próprio carácter depende inteiramente dos nossos juízos acerca da nossa conduta passada. Mas é tão desagradável pensarmos mal de nós mesmos que amiúde afastamos propositadamente o nosso olhar das circunstâncias que poderiam tornar o julgamento desfavorável. 
  Esse auto-engano, essa fraqueza fatal dos homens, é a fonte de metade das desordens da vida humana. Se pudéssemos ver-nos como os outros nos vêem, ou como veriam se estivessem a par de tudo, uma reforma geral seria inevitável. Seria impossível, de outro modo, suportar a visão. 




Adam Smith, in 'A Teoria dos Sentimentos Morais'

sexta-feira, junho 15, 2012

Nunca posso dizer: "Eu sou a única pessoa em quem posso confiar". Pois sou sempre a maior vilã de mim mesma. Tudo quanto erro, quanto me iludo, quanto sofro, quanto me engano, quanto faço... são culpas de mim mesma que não sou covarde o suficiente em não reconhecer. Estou sempre lutando contra mim a favor de mim. 

Parte IV- Despedida inconsciente... quinta-feira, maio 31, 2012


    O "chão" do meu pai lhe tinha fugido dos pés, mais uma vez corajosamente ele seguiu sem segurança de um amanhã melhor. Enquanto meu padrinho sucumbia no leito de um hospital, meu pai seguia sozinho. A única pessoa que o ajudava de certa forma era um taxista com quem ele fez amizade, seu nome é Josepe e além de prestar serviços ao meu pai como motorista ele teve papel significativo nestes dias sombrios que meu pai passou.
   Meu pai estava cada vez mais fragilizado e seu corpo já não estava mais suportando tamanho desgaste. Foi internado a primeira vez e diagnosticado com enfisema pulmonar em estágio avançado, além de pneumonia. Mesmo assim teve que aguentar e permanecer nas proximidades do irmão que estava internado a fim de não ser acusado de abandono de incapaz.
  As dificuldades eram cada vez maiores, até que minha irmã Rheyka foi passar um tempo com ele para ajudá-lo. Uma vez recebida alta, quando ela foi acompanhar meu pai na saída do hospital deparou-se com Rui que a reconheceu e cumprimentou-a, porém a situação foi de tensão, ele ia visitar meu pai para torturá-lo psicologicamente, a presença dele era inconveniente e incômoda. Rheyka com seu pequeno filho nos braços procurou não dar muita conversa e sair de lá o quanto antes, pois o tom do meu tio era irônico e intimidador. No meio de tanta confusão houveram ameaças, perseguições... o medo passou a tomar conta da minha irmã que dividia um pequeno e abafado espaço com meu pai, um quarto alugado, local impróprio para uma criança e desconfortável para um idoso doente, mas era o que se podia ter acesso. Com a pressão de dadas circunstâncias minha irmã não suportou e por temer a integridade física principalmente do filho, teve que tomar a dura decisão de ir embora. Segundo relatos dela, meu pai ficou pesaroso e triste por esta decisão... a despedida deles foi seca e quando ela partiu sentiu que nunca mais o veria. O beijo na testa foi o adeus que se ela soubesse que realmente era um adeus teria sido diferente.
  Mais uma vez sozinho, o declínio dele era cada vez mais evidente.
  Uma ligação importante foi recebida pela minha mãe, o pedido de comparecimento urgente dela em Porto Alegre foi feito, novamente meu pai estava internado e o estado dele era grave. Quando deu entrada no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, ele já não andava há 12 dias, repentinamente perdeu os movimentos das pernas e durante dias viveu naquele quartinho infernal, se alimentando mal, fazendo suas necessidades fisiológicas nas calças... certa vez Josepe na sua prestatividade encontrou meu pai na cama todo sujo de fezes e com a ajuda de outra pessoa deu banho em meu pai.
  No decorrer de toda essa turbulência fiquei por dias sem contato com meu pai, quando conseguia falar com ele percebia que algo muito ruim estava acontecendo, mas ele sempre tentando me poupar de preocupações omitia detalhes. Por vezes ele mal conseguia falar, ou por rouquidão, dor ou emoção.

Parte III- Do "Oiapoque" ao "Chuí " quinta-feira, maio 31, 2012


   Depois de longos anos morando em Belém do Pará. Após muita história construída, lutas, vitórias, derrotas, tristezas, felicidades... enfim, tudo quanto se pode construir no decorrer de uma vida, eis que meu pai retornou à sua terra natal, atravessou o Brasil do norte ao sul na esperança de dias melhores, com espírito de caridade, atendendo às necessidades de amparo dos seus dois únicos irmãos vivos. Um deles era também meu padrinho de batismo  e ele desde nascença possuía limitações físicas, era cego e se locomovia com dificuldades, porém um homem de coração grandioso, temente à Deus e de uma inteligência surpreendente, chamava-se Urbano e era irmão gêmeo do meu outro tio que ainda é vivo, Rui (nome fictício).
   Ao chegar no Rio Grande do Sul, mais precisamente em Porto Alegre, ele se deparou com grandes conflitos e confusões entre a família. Um verdadeiro jogo de estratégias, manipulação e interesses onde a maior parte dos envolvidos visava unicamente o poder aquisitivo. Terceiros com práticas de caráter duvidoso penetraram no seio da nossa família causando um verdadeiro desastre e desunião entre aqueles que mais minha avó paterna tanto incentivou a serem unidos e amigos: os irmão. Infelizmente as pessoas, por mais bondosas que sejam, têm um lado ruim e quando é justamente este lado que se é alimentado não se pode esperar resultado contrário à catástrofe. O tempo guarda em si muitos segredos, mas ele próprio os revela hora ou outra... assim sendo, foi o que aconteceu.
   Sem adentrar muitos nos detalhes da situação, até porque ela ainda é vigente, posso prosseguir dizendo que Deus se mostrou misericordioso e embora as injustiças do mundo por vezes sejam irreversíveis aqui, a justiça Daquele que é soberano sobre o amor, a benignidade e a retidão jamais falhará. Embora não compreendamos de imediato ou façamos mal pensamento acerca da maneira como Deus permite que certas coisas aconteçam, tais ocorrências podem ser perfeitamente esclarecidas e percebidas se tivermos espírito de humildade e discernimento acerca da Palavra de Deus.
  Antes de mudar-se para Porto Alegre, meu pai já andava com uma série de problemas de saúde que comprometeram totalmente a qualidade de vida dele. Ainda em Belém ele sentia fortes dores nas articulações e foi diagnosticado superficialmente como portador de reumatismo... morava sozinho e às vezes simples tarefas lhe eram grandes desafios. Mesmo com todas suas limitações não hesitou em dar o salto do norte ao sul do país, deixando para trás tudo o que tinha, levando consigo apenas poucos pertences pessoais.
  Porto Alegre lhe trouxe alegrias logo à chegada, minha irmã Talita o acompanhou nesta viagem e passou cerca de um mês lá com ele. A princípio ficaram hospedados na casa da sobrinha dele Elisa (nome fictício), sobrinha esta que nos tinha alertado sobre os problemas surgidos com os irmãos dele, incentivando então a mudança de residência do meu pai a fim de zelar pela integridade e conforto dos meus tios, uma vez que, o irmão gêmeo considerado sadio, tinha sido diagnosticado com mal de Alzheimer, este tal que possuía a tutela do meu tio excepcional. A ida do meu pai era uma ameaça real à tutela exercida pelo meu tio Rui e consequentemente a administração dos bens e pensão de valor alto recebida pelo meu padrinho mudariam para as mãos do meu pai. Esta questão causou ira por parte do tio Rui e seus aliados. Por uma questão de segurança meu pai e minha irmã se mantiveram "escondidos" dos outros familiares sob amparo da sobrinha do meu pai. A princípio houveram dias felizes, meu pai demonstrava contentamento por estar sendo bem tratado e por estar no lugar onde ele teve suas origens. Para mim era muito bom participar, mesmo que de tão longe, da felicidade dele e embora eu soubesse que as coisas por lá uma hora iriam fervilhar, a esperança da resolução dos problemas e dias melhores para todos pairava sobre meu coração.
  Os dias foram passando e minha irmã teve que retornar à Belém para cuidar da filhinha dela, mal sabia ela que aquele abraço do meu pai com olhos marejados seria o último de sua vida. Eu, mesmo morando em Portugal me preocupava constantemente com o decorrer de toda esta história, pois aos poucos as "máscaras" de muitos foram caindo e a situação tornou-se cada vez mais perigosa para a integridade física do meu pai.
  Alguns dias após o retorno da Talita para o norte, com o aproximar das festividades natalinas, Elisa noticiou meu pai de que meu tio Rui o tinha convidado para lá passar o Natal e viver na companhia deles. Meu pai mal pôde acreditar e ficou muito satisfeito com o convite, assim o aceitando. Infelizmente não era verdade, ao chegar em Canoas, na casa deixada pelos meus avós, meu pai se deparou com a raiva do seu irmão Rui que brigou e humilhou meu pai até persuadi-lo a se retirar. Rui chegou inclusive a ameaça-lo de morte enquanto estivesse dormindo e o proibiu sequer de retirar água da geladeira para beber. Vendo-se diante da impropriedade de lá continuar, foi embora deixando ainda para trás alguns pertences, levando consigo os bens de uso pessoal e um mísero dinheiro dado por Rui para ele ir embora.
  Elisa que se propôs a assumir responsabilidade de zelo e amparo ao meu pai armou-lhe tal cilada, de modo a forçá-lo sair da casa dela. Meu pai quando quis retornar após ter sido expulso da casa dos irmãos encontrou as portas fechadas. Então escondeu-se em uma pensãozinha barata, desiludido com o irmão que o expulsara, profundamente magoado, pois jamais pensou passar por tamanha decepção. Eles que sempre foram tão amigos, agora meu tio fazer isto com o próprio irmão às custas de dinheiro, para garantir ao companheiro homossexual o sustento de luxos, tirando daqueles que mais precisam e pior, roubando do irmão gêmeo que não sabia se defender. Qualificar tais atitudes ainda me causam asco.
   Sempre que possível eu falava com meu pai por telefone e a princípio ele nem à mim revelou onde estava de fato, me deixando muito preocupada. Mesmo doente e emocionalmente abalado meu pai não se deu por vencido e ainda assim conseguiu na justiça o direito sobre a tutela do meu padrinho Urbano. Feito isto tratou de ir buscá-lo e levou-o com a governanta para a casa de praia em Cidreira, local este que era o recanto preferido do meu padrinho. As coisas a partir dalí melhoraram e as vezes que eu falava com meu pai ele estava sempre bem disposto e esperançoso de que nosso reencontro.
  Ainda sem saber ao certo o quão debilitado meu pai estava, eu prometi à ele que o iria ver em março de 2012, eu estaria presente no dia do seu aniversário dia 21 de março. Mas as circunstâncias mudaram, meu padrinho que também estava com a saúde em estado muito delicado, acabou por passar mal a dormir e isto fez com que o socorro dele não fosse imediato. Quando a governanta percebeu o que estava acontecendo com Urbano, era demasiado tarde para reverter o caso, ainda em vida , porém em coma, ele foi socorrido e internado. Meu pai não conseguia acreditar naquilo, talvez estivesse em estado de choque, negando a realidade cruel da situação. Se não bastasse tudo, ainda quiseram acusar meu pai de omissão de socorro, sendo que nem ele próprio sabia do grau de comprometimento da saúde do irmão. Perante este pesadelo, mais pessoas revelaram ser quem realmente são. Mais sobrinhos do meu pai o acusaram de assassino, como se ele fosse o causador de tal fatalidade. Diante de momentos tão difíceis tivemos que suportar desaforos e julgamentos injustos por parte daqueles que inicialmente pensamos ter boas intenções e caráter.